Pensar em ser poeta

Eu não quero ser poeta de final de ano.
Nem cantar canções de ninar.
Eu não quero ser escravo do tempo.
Do seu tempo.
Eu não quero me controlar (por você)
Eu não quero acordar no seu horário.
Nem ir dormir no seu dia.
Nem rir brincando com a morte.
Que me arrepia.
Eu não quero abusar de mim.
E nem zombar da minha vontade.
Eu não quero ser poeta de fim de semana.
E nem de tempo nenhum.
Eu não quero ser poeta e pronto e acabou.
Nem assombrar-me com termos e conceitos que
Não me fazem valer quem eu sou.
Porque eu não os invisto.
Eu não quero brincar de escrever minhas dores,
Ou meus amores, ou minhas angústias…
Eu não quero ser poeta e pronto.
Eu só quero me manter viva.
E sem solidão com gente por perto.
Eu só quero pensar e escrever de acordo com
As letras, pois estas reinam à vontade.
Mesmo que as idéias estejam fora do lugar.
Eu só quero me libertar.
Aprender a voar no fundo do abismo (onde fui parar)
E pensar em ser poeta o ano inteiro e também no carnaval.

Ontem

Ontem.
Ontem percebi que podia morrer.
Morrer de dor, morrer de amor.
Quem poderia me deter?
Quem poderia fazer reinar em mim o eu
existente supremo, além de mim?
Eu não poderia contrapor quem sou.
Nem por mim, nem por ninguém.
A minha hora é minha e de mais ninguém.
À noite minha fantasia se inspira.
Me agiliza e transforma.
Faz sentir em mim, meu verdadeiro eu.
Distante do calor da manhã.
Junto as nuvens frescas e suaves
Enquanto mergulho em meus papéis
A voltar suspirar a filosofia de
Uma nova existência a partir da ciência
E da abstração.
Solidão é o que sinto.
Não vou dormir agora.
Minha alma chora angustiada enquanto
Tenho o conforto de meu próprio vazio.
Arrepio.
Não tento espreitar a morte.
Nem quero que ela reine soberana sobre mim.
Sobre minha tristeza.
Insegurança. Arrogância. Presunção.
Pra quê?
Você não sabe ver?
Tranquilidade.